Aos Romanos 1:1-32

1  Paulo, escravo de Cristo Jesus e chamado para ser apóstolo, separado para proclamar as boas novas de Deus,+  que ele tinha prometido por meio dos seus profetas nas Escrituras sagradas,+  a respeito do seu Filho, que veio da descendência* de David+ segundo a carne,+  mas que, com poder, foi declarado Filho de Deus+ segundo o espírito de santidade, através da ressurreição dentre os mortos+ (sim, Jesus Cristo, nosso Senhor,  por intermédio de quem recebemos bondade imerecida e um apostolado,+ para que haja obediência pela fé entre todas as nações+ com respeito ao seu nome,  nações dentre as quais vocês também foram chamados para pertencerem a Jesus Cristo),  a todos os que estão em Roma como amados de Deus, chamados para serem santos:+ Que tenham bondade imerecida e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.  Em primeiro lugar, por meio de Jesus Cristo, agradeço ao meu Deus por todos vocês, porque se fala da vossa fé no mundo inteiro.  Pois Deus, a quem presto serviço sagrado com o meu espírito, proclamando as boas novas acerca do seu Filho, é minha testemunha de que sempre vos menciono sem cessar nas minhas orações,+ 10  rogando que, se for possível, agora, eu consiga finalmente visitar-vos, se essa for a vontade de Deus. 11  Pois desejo muito ver-vos, para vos transmitir algum dom espiritual a fim de que sejam firmados; 12  ou melhor, para nos encorajarmos mutuamente+ por meio da nossa fé, tanto da vossa como da minha. 13  Mas não quero que fiquem sem saber, irmãos, que muitas vezes quis visitar-vos para conseguir alguns frutos também entre vocês, assim como entre as demais nações; no entanto, fui impedido até agora. 14  Sou devedor tanto a gregos como a estrangeiros, tanto aos sábios como aos insensatos;*+ 15  assim, estou ansioso para também vos declarar as boas novas, a vocês que estão em Roma.+ 16  Pois não me envergonho das boas novas.+ São, de facto, o poder de Deus para a salvação de todo aquele que tem fé,+ primeiro para o judeu,+ e também para o grego.+ 17  Pois nelas a justiça de Deus é revelada pela fé e para a fé,+ assim como está escrito: “Mas o justo viverá pela fé.”+ 18  Pois a ira de Deus+ revela-se desde o céu contra toda a impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade+ de um modo injusto, 19  porque o que se pode saber sobre Deus é claramente evidente entre eles, visto que Deus lho tornou claro.+ 20  Pois as suas qualidades invisíveis — mesmo o seu poder eterno+ e Divindade+ — são claramente vistas desde a criação do mundo, porque são percebidas por meio das coisas feitas,+ de modo que eles não têm desculpa.+ 21  Porque, embora conhecessem a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe agradeceram, mas os seus raciocínios tornaram-se fúteis, e o seu coração insensato ficou obscurecido.+ 22  Embora afirmassem ser sábios, tornaram-se tolos 23  e transformaram a glória do Deus imperecível* em algo semelhante à imagem do homem perecível, e de aves, de quadrúpedes e de répteis.*+ 24  Portanto Deus, em harmonia com os desejos do coração deles, entregou-os à impureza, para que desonrassem o seu próprio corpo. 25  Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira, e veneraram* e prestaram serviço sagrado à criação em vez de ao Criador, que é louvado para sempre. Amém. 26  É por isso que Deus os entregou à paixão vergonhosa,+ pois tanto as suas mulheres trocaram o uso natural de si mesmas por outro contrário à natureza,+ 27  como também os homens abandonaram o uso natural da mulher e ficaram violentamente inflamados de paixão uns pelos outros, homens com homens,+ praticando o que é obsceno e recebendo em si mesmos a plena punição pelo seu erro.+ 28  Como não quiseram reconhecer a Deus,* Deus entregou-os a um estado mental reprovado, para fazerem coisas que não deviam.+ 29  E eles estavam cheios de todos os tipos de injustiça,+ impiedade, ganância+ e maldade, cheios de inveja,+ assassinato,+ briga, engano+ e malícia,+ eram bisbilhoteiros, 30  caluniadores,+ tinham ódio a Deus, eram insolentes, arrogantes, presunçosos, inventores de coisas más,* desobedientes aos pais,+ 31  sem entendimento,+ desleais nos acordos, desnaturados e sem misericórdia. 32  Embora conheçam muito bem o decreto justo de Deus, de que os que praticam tais coisas merecem a morte,+ não só continuam a fazê-las, mas também aprovam os que as praticam.

Notas de rodapé

Lit.: “semente”.
Ou: “sem instrução”.
Ou: “animais rasteiros”.
Ou: “imortal”.
Ou: “adoraram”.
Ou: “Como rejeitaram o conhecimento exato de Deus”. Lit: “eles não aprovaram aceitar Deus em conhecimento exato”.
Ou: “que planeiam coisas prejudiciais”.

Notas de estudo

A Carta aos Romanos: Títulos de livros bíblicos, como este, pelos vistos, não faziam parte do texto original e foram acrescentados mais tarde para ajudar a identificar os livros. Alguns dos manuscritos em que este título aparece são o Códice Vaticano e o Códice Sinaítico, do século 4 EC, e o Códice Alexandrino e o Códice Ephraemi Syri rescriptus, do século 5 EC. A coleção mais antiga disponível hoje de cartas de Paulo é um códice em papiro que contém nove das suas cartas e é conhecido como P46. Apesar de esse códice não ter o início da carta aos romanos, os outros oito livros têm títulos, o que indica que o livro de Romanos provavelmente também tinha. Esse códice, que é datado de cerca de 200 EC por muitos estudiosos, é uma evidência de que logo no início os copistas já usavam títulos para identificar os livros bíblicos. — Veja na Galeria de Multimédia “A primeira carta de Paulo aos coríntios”.

Paulo: Ou: “De Paulo”. A introdução desta carta de Paulo, que continua até ao versículo 7, segue um estilo que era muito comum nas cartas dos tempos antigos. Normalmente, identificava-se o autor da carta, depois, para quem era a carta e, então, incluía-se um cumprimento. (Ro 1:7) Paulo também conta que foi escolhido como apóstolo e explica qual era a sua mensagem. Esta introdução é mais longa do que o normal (em grego, os versículos 1 a 7 são uma única frase). Alguns sugerem que Paulo tenha feito isso porque, apesar de muitos cristãos da congregação de Roma já o conhecerem, ele ainda não tinha visitado aquela congregação. (Compare com as notas de estudo em At 15:23; 23:26.) Nas primeiras vezes que a Bíblia fala de Paulo, usa o nome hebraico Saulo. No entanto, a partir de At 13:9, ele é sempre chamado pelo seu nome romano (Paúlos, a forma grega de Paulus, um nome em latim comum na época). Ele mesmo se identifica como Paulo em todas as suas cartas, com exceção da carta aos hebreus, onde o seu nome não aparece. Ao usar o nome Paulo, ele talvez estivesse a pensar em ajudar os não judeus a aceitarem a sua mensagem, já que ele tinha recebido a missão de declarar as boas novas como “apóstolo para as nações”. — Ro 11:13; At 9:15; Gál 2:7, 8; veja as notas de estudo em At 7:58; 13:9.

escravo de Cristo Jesus: A palavra grega para “escravo”, doúlos, é geralmente usada para se referir a alguém que é propriedade de uma pessoa, muitas vezes a um escravo que foi comprado. (Mt 8:9; 10:24, 25; 13:27) A palavra também é usada em sentido figurado para se referir a servos leais de Deus e de Jesus Cristo. (At 2:18; 4:29; Gál 1:10; Ap 19:10) Quando Jesus deu a sua vida como resgate, ele comprou a vida de todos os cristãos. Por isso, eles já não pertencem a si mesmos e consideram-se “escravos de Cristo”. (Ef 6:6; 1Co 6:19, 20; 7:23; Gál 3:13) Todos os escritores das Escrituras Gregas Cristãs que foram inspirados a dar conselhos às congregações chamaram-se a si mesmos ‘escravos de Cristo’ pelo menos uma vez nos seus escritos, mostrando a sua submissão a Cristo, o seu Amo e Senhor. — Ro 1:1; Gál 1:10; Tg 1:1; 2Pe 1:1; Ju 1; Ap 1:1.

apóstolo: O substantivo grego apóstolos vem do verbo apostéllo, que significa “enviar”. (Mt 10:5; Lu 11:49; 14:32) O sentido básico desse substantivo pode ser visto claramente em Jo 13:16, onde é traduzido como “o enviado”. Paulo foi chamado para ser apóstolo para as nações, ou seja, para os não judeus, e foi escolhido diretamente pelo ressuscitado Jesus Cristo. (At 9:1-22; 22:6-21; 26:12-23) Como prova de que era realmente um apóstolo, Paulo mencionou que tinha visto o ressuscitado Senhor Jesus Cristo (1Co 9:1, 2) e que tinha realizado milagres (2Co 12:12). Além disso, Paulo foi usado para que cristãos batizados recebessem espírito santo, o que também era uma prova de que era um apóstolo verdadeiro. (At 19:5, 6) Apesar de Paulo muitas vezes mencionar que era um apóstolo, ele nunca disse que era um dos “Doze”. — 1Co 15:5, 8-10; Ro 11:13; Gál 2:6-9; 2Ti 1:1, 11.

separado: A palavra grega aforízo (“separar”) é usada aqui com o sentido de escolher ou designar uma pessoa para um objetivo específico. Aqui, Paulo está a referir-se à designação que ele recebeu de declarar as boas novas de Deus, ou seja, a mensagem sobre o Reino de Deus e a salvação por meio da fé em Jesus Cristo. (Lu 4:18, 43; At 5:42; Ap 14:6) No livro de Romanos, Paulo também usa as expressões “as boas novas acerca do seu Filho” (Ro 1:9) e “as boas novas acerca do Cristo” (Ro 15:19).

Paulo: O nome grego Paúlos vem do latim Paulus e significa “pequeno”. No texto original das Escrituras Gregas Cristãs, esse nome é usado 157 vezes para se referir ao apóstolo Paulo e uma vez para se referir ao procônsul de Chipre, Sérgio Paulo. — At 13:7.

Saulo: Este nome significa “pedido [a Deus]; indagado [a Deus]”. Saulo, também conhecido pelo seu nome romano Paulo, era “da tribo de Benjamim, hebreu nascido de hebreus”. (Fil 3:5) No entanto, apesar de ser judeu, tinha cidadania romana desde que nasceu. (At 22:28) Por isso, é provável que ele tivesse esses dois nomes desde criança. Parece lógico que os próprios pais de Saulo lhe tenham dado tanto o nome hebraico, Saulo, como o nome romano Paulo (Paulus), que significa “pequeno”. Eles podem ter escolhido o nome Saulo (ou Saul) por vários motivos. Um deles é que esse era um nome tradicional entre as pessoas da tribo de Benjamim porque o primeiro rei de Israel, que era dessa tribo, se chamava Saul. (1Sa 9:2; 10:1; At 13:21) Ou podem ter pensado no significado do nome Saulo. Outra possibilidade é que ele tenha recebido o nome do seu pai, algo que era comum naquela época. (Compare com Lu 1:59.) Seja qual for o motivo, ele deve ter usado o nome Saulo quando estava entre os judeus, especialmente no período em que estudou para ser fariseu e depois de se ter tornado um deles. (At 22:3) Mesmo depois de se ter tornado cristão, parece que ele continuou a ser conhecido principalmente pelo nome Saulo por mais de dez anos. — At 11:25, 30; 12:25; 13:1, 2, 9.

mandam saudações aos irmãos […] e na Cilícia: Ou: “aos irmãos […] e na Cilícia: Saudações!” A palavra grega traduzida aqui como “saudações”, khaíro, significa literalmente “alegrar-se”. Aqui, foi usada como um cumprimento e transmite a ideia de “que tudo esteja bem convosco”. No texto original grego desta carta às congregações sobre o assunto da circuncisão, a introdução segue o padrão que era usado ao escrever cartas na antiguidade. Primeiro, identificava-se o autor da carta, depois, para quem era a carta e, então, incluía-se um cumprimento. (Veja a nota de estudo em At 23:26.) De todas as cartas inspiradas das Escrituras Gregas Cristãs, apenas a de Tiago usa a palavra khaíro como cumprimento da mesma forma que esta carta do corpo governante do primeiro século EC. (Tg 1:1) Isso apoia a conclusão de que a carta de Tiago foi escrita pelo mesmo Tiago mencionado aqui em At 15, que teve um papel importante na reunião sobre a circuncisão e que participou na escrita da carta para as congregações.

Saulo, também chamado Paulo: A partir deste versículo, a Bíblia começa a chamar Saulo pelo seu outro nome, Paulo. Ele era hebreu, mas desde que nasceu também tinha cidadania romana. (At 22:27, 28; Fil 3:5) Por isso, é provável que, desde a infância, tivesse o nome hebraico Saulo e o nome romano Paulo. Não era incomum que os judeus daquela época, principalmente os que viviam fora de Israel, tivessem dois nomes. (At 12:12; 13:1) Alguns dos familiares de Paulo também tinham nomes romanos ou gregos, além do nome hebraico. (Ro 16:7, 21) Paulo, como “apóstolo para as nações”, tinha a missão de levar as boas novas aos não judeus. (Ro 11:13) Parece que o próprio Paulo decidiu usar o seu nome romano, talvez por pensar que isso ajudaria as pessoas das nações a aceitar a mensagem que pregava. (At 9:15; Gál 2:7, 8) Alguns sugerem que ele adotou o nome romano em homenagem a Sérgio Paulo. Mas isso parece improvável, visto que ele continuou a usar esse nome mesmo depois de sair de Chipre. Outros acham que Paulo evitou usar o seu nome hebraico, Saulo, porque a pronúncia grega desse nome era muito parecida com a de uma palavra grega que tinha má conotação. — Veja a nota de estudo em At 7:58.

Cláudio Lísias a Sua Excelência, o governador Félix. Saudações!: Na antiguidade, era costume usar este tipo de introdução nas cartas. Primeiro, identificava-se o autor da carta, depois, para quem era a carta e, então, incluía-se a palavra grega khaíro, que era um cumprimento comum. Essa palavra significa literalmente “alegrar-se” e passa a seguinte ideia: “Que tudo esteja bem consigo.” Aparece com frequência em cartas não bíblicas escritas em papiro. Neste versículo, a palavra khaíro pode ser corretamente traduzida como “Saudações!”. Outros textos que contêm introduções parecidas são At 15:23 e Tg 1:1. — Veja a nota de estudo em At 15:23.

Escrituras sagradas: Aqui, esta expressão refere-se às Escrituras Hebraicas. No restante das Escrituras Gregas Cristãs, esse grupo de escritos inspirados é chamado “as Escrituras” e “os escritos sagrados”. (Mt 21:42; Mr 14:49; Lu 24:32; Jo 5:39; At 18:24; Ro 15:4; 2Ti 3:15, 16) Além disso, às vezes as expressões “Lei” (Jo 10:34; 12:34; 15:25; 1Co 14:21) e “a Lei e os Profetas” (Mt 7:12; Lu 16:16) são usadas em sentido abrangente para se referir às Escrituras Hebraicas como um todo. — Mt 22:40; veja as notas de estudo em Mt 5:17; Jo 10:34.

na vossa Lei: Aqui, a palavra “Lei” refere-se às Escrituras Hebraicas como um todo, e não apenas à Lei mosaica. A citação que aparece neste versículo é do Sal 82:6. A palavra “Lei” é usada com esse mesmo sentido em Jo 12:34 e 15:25.

a Lei [...] os Profetas: “A Lei” são os livros de Génesis a Deuteronómio. “Os Profetas” são os livros das Escrituras Hebraicas escritos pelos profetas. No entanto, quando as duas expressões são mencionadas juntas, podem referir-se a todos os livros das Escrituras Hebraicas. — Mt 7:12; 22:40; Lu 16:16.

segundo a carne: Aqui, a palavra grega para “carne” (sarx) passa a ideia de parentesco físico, humano. Maria era da tribo de Judá e era descendente de David. Por isso, podia dizer-se que o filho dela, Jesus, veio da descendência de David segundo a carne. Por meio da sua mãe, Jesus era “a raiz e o descendente de David”. (Ap 22:16) Como descendente biológico dele, Jesus tinha direito ao “trono de David, seu pai”. (Lu 1:32) Jesus também tinha direito legal ao trono, já que o seu pai adotivo, José, também era descendente de David. — Mt 1:1-16; At 13:22, 23; 2Ti 2:8; Ap 5:5.

Este é o meu Filho: Enquanto vivia no céu, Jesus já era o Filho de Deus. (Jo 3:16) Quando nasceu como humano, Jesus era um “filho de Deus”, assim como Adão era antes de pecar. (Lu 1:35; 3:38) No entanto, parece razoável concluir que aqui, quando Jeová disse “este é o meu Filho”, ele não estava apenas a confirmar quem Jesus era. Pelos vistos, o facto de Jeová ter dito essas palavras enquanto derramava o espírito santo indicava que Jesus se tinha tornado o seu Filho gerado por espírito. Naquele momento, Jesus ‘nasceu de novo’, com a esperança de voltar a viver no céu, e foi ungido, ou escolhido, para ser Rei e Sumo Sacerdote. — Jo 3:3-6; 6:51; veja também Lu 1:31-33; He 2:17; 5:1, 4-10; 7:1-3.

declarado: Ou: “estabelecido como”. Neste versículo, Paulo diz que Jesus foi declarado Filho de Deus por meio da ressurreição dentre os mortos. Em At 13:33, Paulo explicou que a ressurreição de Jesus cumpriu o que estava escrito no Sal 2:7. Esse salmo também se cumpriu na ocasião do batismo de Jesus, quando o seu Pai declarou: “Este é o meu Filho.” — Veja a nota de estudo em Mt 3:17.

o espírito de santidade: Ou seja, o espírito santo de Deus. A expressão grega traduzida aqui como “espírito de santidade” é parecida com a expressão hebraica usada no Sal 51:11 (“teu espírito santo”, lit.: “espírito da tua santidade”) e em Is 63:10, 11 (“seu espírito santo”, lit.: “espírito da sua santidade”). Jeová tem pleno controlo sobre o seu espírito (a sua força ativa), e esse espírito realiza tudo o que Jeová deseja. É limpo, puro e sagrado, separado para o uso de Deus.

recebemos: Ou: “recebi”. Pelos vistos, aqui Paulo está a referir-se a si mesmo e usa o plural “recebemos” apenas como recurso linguístico. Quando menciona o seu apostolado, Paulo está a falar de uma designação que apenas ele recebeu, a de ser apóstolo para as nações. Além disso, no versículo 1, Paulo não menciona nenhuma pessoa além dele como remetente da carta e, nos versículos 8 a 16, ele usa a primeira pessoa do singular. Assim, apesar de Paulo ter usado o plural neste versículo, parece razoável concluir que ele estava a falar sobre si próprio, sem incluir os outros apóstolos.

mandam saudações aos irmãos […] e na Cilícia: Ou: “aos irmãos […] e na Cilícia: Saudações!” A palavra grega traduzida aqui como “saudações”, khaíro, significa literalmente “alegrar-se”. Aqui, foi usada como um cumprimento e transmite a ideia de “que tudo esteja bem convosco”. No texto original grego desta carta às congregações sobre o assunto da circuncisão, a introdução segue o padrão que era usado ao escrever cartas na antiguidade. Primeiro, identificava-se o autor da carta, depois, para quem era a carta e, então, incluía-se um cumprimento. (Veja a nota de estudo em At 23:26.) De todas as cartas inspiradas das Escrituras Gregas Cristãs, apenas a de Tiago usa a palavra khaíro como cumprimento da mesma forma que esta carta do corpo governante do primeiro século EC. (Tg 1:1) Isso apoia a conclusão de que a carta de Tiago foi escrita pelo mesmo Tiago mencionado aqui em At 15, que teve um papel importante na reunião sobre a circuncisão e que participou na escrita da carta para as congregações.

Vai em paz: Esta expressão idiomática é bastante usada nas Escrituras Gregas e nas Escrituras Hebraicas com o sentido: “Que tudo vá bem contigo.” (Lu 7:50; 8:48; Tg 2:16; veja também 1Sa 1:17; 20:42; 25:35; 29:7; 2Sa 15:9; 2Rs 5:19.) A palavra hebraica que é muitas vezes traduzida como “paz” (shalóhm) é muito abrangente. Refere-se à ausência de guerra ou conflitos (Jz 4:17; 1Sa 7:14; Ec 3:8) e também pode transmitir a ideia de saúde, segurança (veja as notas de rodapé em 1Sa 25:6; 2Cr 15:5; Jó 5:24), bem-estar (Est 10:3, segunda nota de rodapé) e amizade (Sal 41:9). A palavra grega para “paz” (eiréne) é usada nas Escrituras Gregas Cristãs com esse mesmo sentido abrangente e, além de se referir à ausência de conflitos, pode transmitir a ideia de bem-estar, salvação e harmonia.

na bondade imerecida de Deus: Paulo tinha sido um opositor de Jesus e dos seus seguidores (At 9:3-5) e, por isso, tinha todos os motivos para dar destaque à bondade imerecida de Jeová. (Veja o Glossário, “Bondade imerecida”.) Paulo reconhecia que era só por causa da bondade imerecida de Deus que ele era capaz de realizar o seu ministério. (1Co 15:10; 1Ti 1:13, 14) Ao falar com os anciãos de Éfeso, ele mencionou essa qualidade duas vezes. (At 20:24, 32) E, nas suas 14 cartas, Paulo mencionou a “bondade imerecida” cerca de 90 vezes, bem mais do que qualquer outro escritor bíblico. Por exemplo, Paulo fala da bondade imerecida de Deus ou de Jesus nas saudações iniciais de todas as suas cartas, menos na carta aos hebreus, e usa essa expressão nas observações finais de todas elas.

todos os que estão em Roma: Ou seja, todos os cristãos na cidade de Roma. O relato em At 2:1, 10 mostra que “visitantes vindos de Roma, tanto judeus como prosélitos” estavam presentes no Pentecostes de 33 EC e viram o que aconteceu depois de o espírito santo ter sido derramado sobre os discípulos. Alguns desses visitantes, sem dúvida, estavam entre os 3000 que foram batizados naquela ocasião. (At 2:41) É provável que, ao retornarem para Roma, eles tenham formado uma congregação zelosa. Em Ro 1:8, o apóstolo Paulo diz que se falava da fé dos cristãos daquela congregação “no mundo inteiro”. Até os historiadores romanos Tácito (The Annals, XV, XLIV) e Suetónio (The Lives of the Caesars, Nero, XVI, 2), que nasceram no primeiro século EC, falaram sobre os cristãos em Roma.

santos: As Escrituras Gregas Cristãs muitas vezes chamam “santos” aos irmãos espirituais de Cristo nas congregações. (At 9:13; 26:10; Ro 12:13; 2Co 1:1; 13:13) Esses irmãos de Cristo entram num relacionamento especial com Deus. Isso acontece por meio do novo pacto feito com base no sangue derramado de Jesus, a que a Bíblia também chama “o sangue de um pacto eterno”. (He 10:29; 13:20) Eles são santificados, purificados e declarados “santos” por Deus. Ele considera-os santos desde o momento em que os escolhe para fazerem parte do novo pacto, quando eles ainda estão na Terra, não depois da sua morte. Assim, a Bíblia não fornece nenhuma base para que uma pessoa ou uma organização declare que alguém é santo. Pedro disse que os escolhidos por Deus devem ‘ser santos’ porque Deus é santo. (1Pe 1:15, 16; Le 20:7, 26) Esses “santos” também entram num relacionamento especial de união com Cristo e são co-herdeiros com ele. Mais de 500 anos antes de os seguidores de Cristo serem chamados “santos”, Deus já tinha revelado que um grupo de pessoas, a que ele chamou “os santos do Supremo”, iria reinar com Cristo no Reino dele. — Da 7:13, 14, 18, 27.

Que tenham bondade imerecida e paz: Paulo usa esta saudação em 11 das suas cartas. (1Co 1:3; 2Co 1:2; Gál 1:3; Ef 1:2; Fil 1:2; Col 1:2; 1Te 1:1; 2Te 1:2; Tit 1:4; Flm 3) Ele também usa uma saudação muito parecida nas suas cartas a Timóteo, mas acrescenta a qualidade da “misericórdia”. (1Ti 1:2; 2Ti 1:2) Estudiosos perceberam que, em vez de usar o cumprimento comum khaírein (“Saudações!”), Paulo muitas vezes usa uma palavra grega que tem um som parecido, kháris (“bondade imerecida”). Dessa maneira, ele expressa o seu desejo de que as congregações recebam “bondade imerecida” de forma plena. (Veja a nota de estudo em At 15:23.) Paulo também inclui a palavra “paz”, que reflete uma saudação comum em hebraico, shalóhm. (Veja a nota de estudo em Mr 5:34.) Ao usar a expressão “bondade imerecida e paz”, Paulo, pelos vistos, destaca o tipo de relacionamento que os cristãos podem ter com Jeová Deus graças ao resgate. Quando Paulo menciona de onde vêm a bondade imerecida e a paz, ele faz uma separação entre Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo.

bondade imerecida: Ou: “bondade generosa”. (Veja o Glossário.) Nas suas 14 cartas, Paulo menciona a “bondade imerecida” (em grego, kháris) cerca de 90 vezes, bem mais do que qualquer outro escritor bíblico. Por exemplo, Paulo fala da bondade imerecida de Deus ou de Jesus nas saudações iniciais de todas as suas cartas, menos na carta aos hebreus, e usa essa expressão nas observações finais de todas elas. Outros escritores bíblicos também se referem à “bondade imerecida” na introdução ou na conclusão dos seus escritos. — 1Pe 1:2; 2Pe 1:2; 3:18; 2Jo 3; Ap 1:4; 22:21; veja a nota de estudo em At 13:43.

a quem presto serviço sagrado: Ou: “a quem sirvo (adoro)”. A palavra grega usada aqui, latreúo, tem o sentido básico de “servir”. Na Bíblia, refere-se a servir a Deus ou a trabalhar em coisas relacionadas com a adoração a ele. (Mt 4:10; Lu 2:37; 4:8; At 7:7; Fil 3:3; 2Ti 1:3; He 9:14; 12:28; Ap 7:15; 22:3) Neste versículo, Paulo relaciona o seu serviço sagrado a Deus com as boas novas acerca do Filho. Assim, quando os discípulos de Jesus pregam essas boas novas, eles estão a prestar serviço sagrado, ou seja, estão a adorar a Jeová Deus.

com o meu espírito: Neste contexto, a palavra grega para “espírito” (pneúma) pelos vistos refere-se à força que vem do coração figurativo de uma pessoa e que a motiva a falar e a fazer as coisas de uma certa forma. (Veja o Glossário, “Espírito”.) Aqui, Paulo usa essa expressão para transmitir a ideia de servir com todo o seu ser. Essa expressão também poderia ser traduzida como “de todo o coração”.

dom espiritual: A palavra grega traduzida aqui como “dom”, khárisma, está relacionada com a palavra kháris, que muitas vezes é traduzida como “bondade imerecida”. A palavra khárisma aparece 17 vezes nas Escrituras Gregas Cristãs. Transmite a ideia de um presente, um favor ou uma bênção que uma pessoa recebe de Deus sem ter feito nada para o merecer. É algo que ela recebe graças apenas à bondade generosa, ou imerecida, dele. Às vezes, khárisma é usada para se referir aos dons sobrenaturais do espírito. (1Co 12:4, 9, 28-31) Mas tanto o contexto como o uso do adjetivo “espiritual” (em grego, pneumatikós) indicam que o “dom” de que Paulo estava a falar era uma ajuda em sentido espiritual. Paulo desejava que os seus irmãos fossem firmados. Ele queria ajudá-los a fortalecer a sua fé e a sua amizade com Deus. Assim, a habilidade que os cristãos têm de fortalecer a fé uns dos outros pode ser considerada como um dom espiritual dado por Deus. — Compare com 1Pe 4:10, 11.

nos encorajarmos mutuamente: Lit.: “sermos encorajados (consolados) juntos”. Esta é a única vez que o verbo synparakaléomai aparece nas Escrituras Gregas Cristãs. Mas Paulo muitas vezes usa o verbo relacionado parakaléo (lit.: “chamar para o seu lado”) para passar a ideia de “encorajar; consolar”. (Ro 12:8; 2Co 1:4; 2:7; 7:6; 1Te 3:2, 7; 4:18; 5:11; He 3:13; 10:25) Paulo destaca aqui que não seriam apenas os cristãos em Roma que se beneficiariam da visita que ele planeava fazer. Tanto aqueles cristãos como o próprio Paulo seriam encorajados pela uns dos outros.

irmãos: Em alguns contextos, as Escrituras usam a palavra “irmão” para falar de um cristão e a palavra “irmã” para falar de uma cristã. (1Co 7:14, 15) Em outros contextos, como acontece aqui, usam o plural masculino “irmãos” para falar de um grupo formado por homens e mulheres. Era costume usar o termo “irmãos” ao dirigir-se a um grupo de cristãos, mesmo que incluísse mulheres. (At 1:15; 1Te 1:4) É nesse sentido mais abrangente que a palavra “irmãos” é usada na maioria das cartas inspiradas. Na carta aos romanos, Paulo usa várias vezes a palavra “irmãos” para se dirigir a todos na congregação. — Ro 7:1, 4; 8:12; 10:1; 11:25; 12:1; 15:14, 30; 16:17.

para conseguir alguns frutos também entre vocês: Por outras palavras, Paulo estava a dizer “para que o meu trabalho (a minha pregação) tivesse bons resultados também entre vocês”. Paulo usa aqui o termo agrícola karpós (“fruto”), que aparece muitas vezes nas Escrituras. Quando esse termo é usado em sentido figurado, refere-se a crescimento ou prosperidade espiritual. (Mt 3:8; 13:8; Jo 15:8, 16; Fil 1:11, 22) Talvez Paulo desejasse ver os irmãos em Roma desenvolverem “o fruto do espírito” de uma forma mais completa. (Gál 5:22, 23; Ro 1:11, 12) Mas parece que aqui ele tinha em mente algo mais. A continuação da frase, assim como entre as demais nações, indica que Paulo desejava ajudar outras pessoas a tornarem-se discípulos de Jesus Cristo em Roma e, possivelmente, em lugares ainda mais distantes. — Ro 15:23, 24.

devem: Ou: “têm a obrigação de”. O verbo grego traduzido aqui como “devem” é, muitas vezes, usado em contextos financeiros, com o sentido básico de “estar em dívida com alguém; dever algo a alguém”. (Mt 18:28, 30, 34; Lu 16:5, 7) Aqui e em outros contextos, é usado com o sentido mais amplo de ter a obrigação de fazer alguma coisa. — 1Jo 3:16; 4:11; 3Jo 8.

Sou devedor tanto a […] como a: Ou: “Tenho uma dívida tanto com […] como com; tenho uma obrigação tanto para com […] como para com”. Nas Escrituras, a palavra grega para “devedor” e outras palavras relacionadas com dívidas podem referir-se tanto a dívidas financeiras como a obrigações e deveres em geral. O verbo grego traduzido como “devem” em Jo 13:14 (veja a nota de estudo) tem o sentido básico de “estar em dívida com alguém; ter uma obrigação para com alguém”. Paulo indica aqui que se sentia em dívida com cada pessoa que conhecia, uma dívida que ele só conseguiria pagar por partilhar as boas novas. (Ro 1:15) Ele estava tão grato pela misericórdia que tinha recebido que se sentia obrigado a ajudar outros a beneficiarem-se da bondade imerecida de Deus. (1Ti 1:12-16) Era como se Paulo dissesse: ‘Quando penso em tudo o que Deus fez pela humanidade e por mim, pessoalmente, sinto-me na obrigação de pregar as boas novas com zelo a todas as pessoas.’

gregos: Aqui, a palavra “gregos” foi usada em contraste com a palavra “estrangeiros”. Neste contexto, não se refere necessariamente a alguém que tinha nascido na Grécia ou que tinha origem grega. Às vezes, era usada para se referir a alguém que falava grego ou que tinha sido influenciado pela cultura grega, mesmo que fosse de outra nacionalidade. Pelos vistos, Paulo usa a expressão “tanto a gregos como a estrangeiros” para incluir todas as pessoas. — Veja a nota de estudo em estrangeiros neste versículo.

estrangeiros: Ou: “não gregos”. A palavra grega que aparece aqui é bárbaros. Em algumas traduções mais antigas da Bíblia, foi traduzida como “bárbaros”. A repetição “bar bar” no início da palavra grega transmitia a ideia de gaguejar, balbuciar ou falar de modo incompreensível. Por isso, a palavra era originalmente usada pelos gregos para se referir a um estrangeiro que falava outra língua. Naquela época, não passava a ideia de falta de refinamento ou de boas maneiras nem tinha um sentido negativo. Em vez disso, era usada simplesmente para diferenciar os gregos dos não gregos. Alguns escritores judeus, como Josefo, usaram o termo bárbaros para se referir a eles próprios. Na verdade, até os romanos, antes de terem adotado a cultura grega, se referiam a si próprios como bárbaros. É com esse sentido neutro que Paulo usa bárbaros na expressão “tanto a gregos como a estrangeiros”, incluindo assim todas as pessoas.

grego: No primeiro século EC, a palavra grega Héllen (“grego”) não se referia necessariamente a alguém que tinha nascido na Grécia ou que tinha origem grega. Ao falar sobre todo aquele que tem fé, Paulo menciona o “grego” e o “judeu”. Neste contexto, tudo indica que Paulo está a usar a palavra “grego” com um sentido amplo para se referir a todos os povos não judeus. (Ro 2:9, 10; 3:9; 10:12; 1Co 10:32; 12:13) Sem dúvida, ele fez isso por causa do destaque e da influência que a língua e a cultura grega tinham em todo o Império Romano.

justiça: Veja o Glossário.

assim como está escrito: Paulo muitas vezes usa estas palavras (em grego, kathós gégraptai, uma forma de gráfo, “escrever”) antes de citações das Escrituras Hebraicas. (Ro 2:24; 3:10; 4:17; 8:36; 9:13, 33; 10:15; 11:26; 15:3, 9, 21; 1Co 1:31; 2:9; 2Co 8:15) Na sua carta aos romanos, Paulo cita mais de 50 passagens das Escrituras Hebraicas e faz muitas outras referências diretas e indiretas a elas.

Mas o justo viverá pela fé: Alguns consideram Ro 1:16, 17 como o texto temático do livro de Romanos, já que expressa a ideia central do livro: Deus é imparcial e dá a “todo aquele que tem fé” a oportunidade de ser salvo. (Ro 1:16) Em todo o livro, Paulo destaca a importância da fé, usando a palavra grega para “fé” e outras palavras relacionadas cerca de 60 vezes. (Alguns exemplos são: Ro 3:30; 4:5, 11, 16; 5:1; 9:30; 10:17; 11:20; 12:3 e 16:26.) Aqui em Ro 1:17, Paulo está a citar Hab 2:4. Ele usa esse mesmo versículo de Habacuque em outras duas cartas para incentivar os cristãos a mostrarem fé. — Gál 3:11; He 10:38; veja a nota de estudo em pela fé neste versículo.

pela fé: Aqui, Paulo está a citar Hab 2:4, que diz “pela sua fidelidade”. Em muitas línguas, as ideias de ser fiel e de ter fé estão fortemente ligadas. A palavra hebraica traduzida como “fidelidade” (ʼemunáh) está relacionada com a palavra hebraica ʼamán, que significa “ser fiel; ser digno de confiança”, mas que também pode passar a ideia de “ter fé”. (Gén 15:6; Êx 14:31; Is 28:16) Portanto, essa parte de Hab 2:4 também poderia ser traduzida como “pela sua ” (nota de rodapé). Paulo talvez estivesse a citar essa passagem conforme ela foi traduzida na Septuaginta, onde a palavra grega pístis foi usada. A ideia principal que essa palavra transmite é a de “convicção; confiança; firme persuasão” e, por isso, normalmente é traduzida como “fé”. (Mt 8:10; 17:20; Ro 1:8; 4:5) No entanto, dependendo do contexto, também pode passar a ideia de ser fiel ou digno de confiança. (Mt 23:23, nota de rodapé; Ro 3:3) Em He 11:1, Paulo, sob inspiração, explica o significado de “fé” (pístis). — Veja a nota de estudo em Mas o justo viverá pela fé neste versículo.

toda a impiedade: Ou: “todo o desrespeito”. A palavra grega traduzida aqui como “impiedade” é asébeia. As Escrituras usam asébeia e outras palavras relacionadas para se referir a uma atitude de desrespeito contra Deus ou, até mesmo, de oposição a ele. (Ju 14, 15) É um antónimo da palavra eusébeia, que é traduzida como “devoção a Deus; piedade” e que se refere a um tipo específico de respeito que fica evidente quando uma pessoa serve e adora a Deus com devoção. — At 3:12; 1Ti 2:2; 4:7, 8; 2Ti 3:5, 12.

o mundo: Na literatura grega e especialmente na Bíblia, a palavra grega traduzida aqui como “mundo” (kósmos) está muito ligada à ideia de “humanidade”. (Veja a nota de estudo em Jo 1:10.) Mas, na literatura grega, ela também é usada para se referir ao Universo ou à criação em geral. É possível que Paulo tenha usado a palavra nesse sentido, visto que estava a tentar estabelecer pontos em comum com os seus ouvintes gregos.

Divindade: Ou: “natureza divina”. A palavra grega theiótes está relacionada com a palavra grega Theós (“Deus”). O contexto mostra que Paulo está a falar de coisas na criação visível que comprovam a existência de Deus. É verdade que sem as Escrituras não seria possível conhecer o propósito de Deus, o nome dele e muitos aspetos da sua personalidade. No entanto, pela criação, é possível perceber as suas qualidades invisíveis (lit.: “as coisas não visíveis dele”), incluindo o seu poder eterno, que foi usado por ele para criar e depois manter o Universo. A criação física é uma prova da sua “Divindade”, ou seja, do facto de que o Criador realmente é Deus e merece ser adorado. — Ap 4:11.

criação do mundo: Nas Escrituras Gregas Cristãs, a palavra grega kósmos (“mundo”) geralmente refere-se à humanidade como um todo ou a uma parte dela. Aqui, neste versículo, Paulo pelos vistos está a referir-se à criação da humanidade. Somente quando os seres humanos foram criados é que a Terra passou a ter criaturas com mentes capazes de perceber as qualidades invisíveis de Deus por observar a criação. Na literatura grega, kósmos também é usada para se referir ao Universo ou à criação em geral. É possível que, em At 17:24, Paulo tenha usado a palavra nesse último sentido, já que naquela ocasião ele estava a falar com gregos. — Veja a nota de estudo em At 17:24.

não têm desculpa: Ou: “são indesculpáveis”. Lit.: “são sem defesa”. A palavra grega anapológetos era um termo jurídico usado para se referir a uma pessoa que não conseguia apresentar nenhuma prova convincente em sua defesa. Aqui, a palavra é usada para se referir aos que não reconhecem a autoridade de Deus. As provas de que Deus existe estão evidentes “desde a criação do mundo”. As qualidades dele são claramente vistas. Assim, aqueles que se negam a aceitar a verdade sobre Deus não têm argumentos válidos para defender a sua causa. Paulo também diz que as qualidades de Deus são percebidas por meio das coisas feitas. A palavra grega traduzida aqui como “percebidas” está relacionada com a palavra para “mente” (em grego, nous), que pode passar a ideia de compreender algo por usar o raciocínio. Uma Bíblia traduz essa parte do versículo por dizer que as qualidades de Deus são “reconhecíveis com a consideração da mente humana”. Os humanos podem descobrir muitas qualidades de Deus por observar as coisas que ele criou e meditar nelas. Quando uma pessoa une essa compreensão ao conhecimento detalhado que o estudo das Escrituras dá sobre o propósito e a maneira de pensar do Criador, é capaz de desenvolver uma forte fé.

Deus […] entregou-os à impureza: Quando Paulo disse estas palavras, talvez se estivesse a referir aos israelitas apóstatas. Eles conheciam a verdade sobre Deus e os seus decretos justos, mas, durante séculos, não agiram de acordo com esse conhecimento. Eles “trocaram a verdade de Deus pela mentira”. (Ro 1:16, 21, 25, 28, 32) Apesar de Deus ter dito especificamente aos israelitas para não praticarem idolatria e imoralidade sexual (Le 18:5-23; 19:29; De 4:15-19; 5:8, 9; 31:16-18), eles envolveram-se vez após vez na adoração de deuses e deusas pagãos, usando imagens de animais ou humanos (Núm 25:1-3; 1Rs 11:5, 33; 12:26-28; 2Rs 10:28, 29; compare com Ap 2:14). Por isso, Deus “entregou-os à impureza”, ou seja, abandonou-os, deixando-os seguir os seus desejos e práticas impuros. As palavras de Paulo (Ro 1:24-32) também se aplicavam às pessoas das nações. Essas pessoas deveriam ter percebido que adorar animais, ou até humanos, não faz nenhum sentido e traz a ira de Deus. — Ro 1:22.

mentira: Aqui, Paulo está a referir-se à idolatria. Os ídolos, ou imagens, são uma mentira, uma falsidade. (Je 10:14) As coisas que Deus criou provam que Deus existe. Mas algumas pessoas que ‘conheciam a Deus’ esconderam a verdade sobre ele. (Ro 1:18, 21, 25) Apesar de saberem a verdade sobre o poder eterno e a Divindade de Deus, essas pessoas fizeram imagens e adoraram-nas. O facto de elas terem escolhido acreditar na falsidade da idolatria levou-as a praticar todo o tipo de atos vergonhosos. — Ro 1:18-31.

Amém: Ou: “Assim seja”. A palavra grega que aparece aqui é amén. É uma transliteração de uma palavra hebraica que vem da raiz ’amán, que significa “ser fiel; ser digno de confiança”. (Veja o Glossário.) A palavra “amém” era usada para concordar com um juramento, com uma oração ou com uma declaração. Por exemplo, os escritores das Escrituras Gregas Cristãs muitas vezes usavam essa palavra logo depois de uma expressão de louvor, assim como Paulo faz aqui. (Ro 16:27; Ef 3:21; 1Pe 4:11) Em outros casos, usavam “amém” depois de pedir a Deus para abençoar as pessoas a quem eles estavam a escrever, reforçando assim o seu pedido. (Ro 15:33; He 13:20, 21) A palavra também era usada para indicar que o escritor concordava sinceramente com o que tinha sido dito. — Ap 1:7; 22:20.

o uso natural da: Ou: “as relações sexuais naturais com a”. A palavra grega traduzida aqui como “natural”, fysikós, refere-se àquilo que está de acordo com a ordem estabelecida das coisas na natureza ou com a função básica que cada coisa tem. Este versículo e o anterior mostram que as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo (tanto entre homens como entre mulheres) não fazem parte do propósito de Deus para os humanos. (Gén 1:27; veja a nota de estudo em Ro 1:26.) As Escrituras Hebraicas deixam claro o ponto de vista de Deus sobre as relações homossexuais. Entre as muitas leis de moral que Deus deu à nação de Israel havia uma lei que proibia esse tipo de relação. (Le 18:22) As pessoas das nações ao redor, por outro lado, consideravam normal que alguém tivesse relações sexuais com uma pessoa do mesmo sexo ou com um animal, praticasse incesto ou fizesse outras coisas proibidas pela Lei mosaica. (Le 18:23-25) As relações homossexuais também são condenadas nas Escrituras Gregas Cristãs. (1Co 6:9, 10) Isso mostra que Deus desaprova sempre esse tipo de conduta, não importa se quem o pratica é judeu ou não judeu.

à paixão vergonhosa: Ou: “ao apetite sexual vergonhoso”. A palavra grega traduzida aqui como “paixão” é páthos e refere-se a um forte desejo, uma paixão descontrolada. O contexto mostra claramente que, neste versículo, se refere a desejos de natureza sexual. Aqui, esse tipo de paixão descontrolada é chamado ‘vergonhoso’ (em grego, atimía, “desonra; vergonha”), visto que traz desonra ou vergonha à pessoa.

o uso natural de si mesmas: Ou seja, as relações sexuais naturais. A palavra grega traduzida aqui como “natural”, fysikós, refere-se àquilo que está de acordo com a ordem estabelecida das coisas na natureza ou com a função básica que cada coisa tem. Como parte do seu argumento em Ro 1:26, 27, Paulo talvez estivesse a fazer uma referência indireta ao relato da criação em Gén 1:27. Em vez de usar as palavras gregas mais comuns para “homem” e “mulher”, ele usou palavras gregas mais específicas, que poderiam ser traduzidas como “macho” e “fêmea”. Essas mesmas palavras gregas específicas foram usadas na tradução de Gén 1:27 na Septuaginta. Além disso, também aparecem em Mt 19:4 e Mr 10:6, que citam esse versículo de Génesis. O relato de Génesis mostra que Deus abençoou o primeiro casal humano e disse-lhe que deveria multiplicar-se e ‘encher a terra’. (Gén 1:28) As relações homossexuais são contrárias à natureza, já que esse tipo de atividade sexual não faz parte do propósito do Criador para os humanos e não é capaz de gerar filhos. A Bíblia compara as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo com as relações sexuais que os anjos rebeldes (que mais tarde ficaram conhecidos como demónios) tiveram com mulheres antes do Dilúvio dos dias de Noé. (Gén 6:4; 19:4, 5; Ju 6, 7) Deus encara esse tipo de relação como desnatural. — Veja a nota de estudo em Ro 1:27.

o uso natural da: Ou: “as relações sexuais naturais com a”. A palavra grega traduzida aqui como “natural”, fysikós, refere-se àquilo que está de acordo com a ordem estabelecida das coisas na natureza ou com a função básica que cada coisa tem. Este versículo e o anterior mostram que as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo (tanto entre homens como entre mulheres) não fazem parte do propósito de Deus para os humanos. (Gén 1:27; veja a nota de estudo em Ro 1:26.) As Escrituras Hebraicas deixam claro o ponto de vista de Deus sobre as relações homossexuais. Entre as muitas leis de moral que Deus deu à nação de Israel havia uma lei que proibia esse tipo de relação. (Le 18:22) As pessoas das nações ao redor, por outro lado, consideravam normal que alguém tivesse relações sexuais com uma pessoa do mesmo sexo ou com um animal, praticasse incesto ou fizesse outras coisas proibidas pela Lei mosaica. (Le 18:23-25) As relações homossexuais também são condenadas nas Escrituras Gregas Cristãs. (1Co 6:9, 10) Isso mostra que Deus desaprova sempre esse tipo de conduta, não importa se quem o pratica é judeu ou não judeu.

praticando o que é obsceno: Ou: “cometendo atos indecentes (vergonhosos)”. A palavra grega que aparece aqui passa a ideia de um comportamento que é vergonhoso.

a plena punição: Ou: “a plena recompensa”. A palavra grega que aparece aqui passa a ideia de uma recompensa dada de acordo com o que uma pessoa merece. Neste versículo, é usada em sentido negativo e refere-se a uma punição apropriada, um castigo ou uma consequência indesejada. Em 2Co 6:13, transmite a ideia de dar uma retribuição apropriada.

o uso natural de si mesmas: Ou seja, as relações sexuais naturais. A palavra grega traduzida aqui como “natural”, fysikós, refere-se àquilo que está de acordo com a ordem estabelecida das coisas na natureza ou com a função básica que cada coisa tem. Como parte do seu argumento em Ro 1:26, 27, Paulo talvez estivesse a fazer uma referência indireta ao relato da criação em Gén 1:27. Em vez de usar as palavras gregas mais comuns para “homem” e “mulher”, ele usou palavras gregas mais específicas, que poderiam ser traduzidas como “macho” e “fêmea”. Essas mesmas palavras gregas específicas foram usadas na tradução de Gén 1:27 na Septuaginta. Além disso, também aparecem em Mt 19:4 e Mr 10:6, que citam esse versículo de Génesis. O relato de Génesis mostra que Deus abençoou o primeiro casal humano e disse-lhe que deveria multiplicar-se e ‘encher a terra’. (Gén 1:28) As relações homossexuais são contrárias à natureza, já que esse tipo de atividade sexual não faz parte do propósito do Criador para os humanos e não é capaz de gerar filhos. A Bíblia compara as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo com as relações sexuais que os anjos rebeldes (que mais tarde ficaram conhecidos como demónios) tiveram com mulheres antes do Dilúvio dos dias de Noé. (Gén 6:4; 19:4, 5; Ju 6, 7) Deus encara esse tipo de relação como desnatural. — Veja a nota de estudo em Ro 1:27.

ganância: Ou: “cobiça”. A palavra grega usada aqui, pleonexía, significa literalmente “ter mais”. Transmite a ideia de desejar ter sempre mais, sem nunca ficar satisfeito. A mesma palavra grega é usada em Ef 4:19 e 5:3. Em Col 3:5, depois de mencionar a ganância (pleonexía), Paulo acrescenta que “é idolatria”.

bisbilhoteiros: Ou: “tagarelas”. A palavra grega que aparece aqui, pelos vistos, refere-se a alguém que costuma tagarelar de forma prejudicial, talvez por espalhar boatos maldosos. — Veja a nota de estudo em 2Co 12:20.

desleais nos acordos: Ou: “contrários a qualquer acordo”. A palavra grega que aparece aqui refere-se a alguém que não cumpre a sua parte num acordo. Também pode incluir a ideia de que uma pessoa não é confiável ou não cumpre as suas promessas. Além disso, uma obra de referência diz que a palavra pode referir-se a “alguém que não está disposto a negociar uma solução para um problema que tem com outra pessoa”.

desnaturados: Ou: “sem afeição natural”. A palavra grega que aparece aqui, ástorgos, é traduzida em algumas Bíblias como “sem coração”. É formada pelo prefixo a (“sem”) e a palavra storgé (“afeição natural”). A palavra ástorgos refere-se à falta do afeto que seria natural entre pessoas da mesma família, especialmente o afeto dos pais pelos filhos e dos filhos pelos pais. Alguém que não tem afeto nem sequer por pessoas da sua própria família dificilmente conseguiria ter bons relacionamentos com outros. Registos feitos por historiadores que viveram no mundo greco-romano comprovam que pessoas daquela época realmente tinham essa característica mencionada por Paulo. Eles relatam casos de pais que abandonavam a família, de filhos que não cuidavam dos pais idosos e de pais que matavam filhos indesejados, como os que eram fracos ou que tinham alguma deficiência. Aqui em Ro 1:31, Paulo usa ástorgos para mostrar o quanto a humanidade se tinha afastado da perfeição original. Em 2Ti 3:3, ele usa a palavra para indicar como as pessoas seriam nos últimos dias.

Multimédia

Vídeo de introdução ao livro de Romanos
Vídeo de introdução ao livro de Romanos
Edifícios de apartamentos na Roma antiga
Edifícios de apartamentos na Roma antiga

Esta imagem mostra como talvez fossem os grandes edifícios de apartamentos em Roma ou em Óstia, a cidade porto de Roma. Esses edifícios talvez tenham tido vários andares. Eram construídos à volta de um pátio e todos os lados do edifício tinham ruas. Um edifício típico tinha divisões no rés do chão que eram arrendadas como uma loja com quartos para habitação; cada um tinha uma entrada para a rua. No primeiro andar havia apartamentos com várias divisões, muitas vezes arrendados a pessoas mais ricas. Os últimos andares tinham divisões de vários tamanhos; as mais pequenas eram as mais baratas, mas as menos desejadas. Os ocupantes dos últimos andares muitas vezes tinham de obter água numa fonte pública e tinham de usar os banhos públicos. A maioria das pessoas em Roma vivia em edifícios semelhantes aos mostrados aqui. Sem dúvida, alguns cristãos em Roma moravam em apartamentos deste tipo.

A cidade de Roma
A cidade de Roma

A cidade de Roma era a capital do Império Romano. Foi construída junto ao rio Tibre, num local que tem sete colinas. Conforme o império aumentava, a cidade também ia crescendo. A meio do primeiro século EC, Roma talvez tivesse 1 000 000 de habitantes, incluindo um bom número de judeus. É possível que os primeiros cristãos de Roma tenham sido judeus e prosélitos que tinham ido a Jerusalém para o Pentecostes de 33 EC. O relato em At 2:10 mostra que havia visitantes de Roma entre os que ouviram Pedro e outros discípulos pregar. É provável que alguns deles se tenham tornado cristãos e levado as boas novas de volta para Roma. Quando Paulo escreveu a sua carta aos cristãos em Roma por volta de 56 EC, ele disse que se falava da fé deles “no mundo inteiro”. (Ro 1:7, 8) Este vídeo mostra como talvez fossem alguns dos pontos principais de Roma nos dias de Paulo.

1. Via Ápia

2. Circo Máximo

3. Monte Palatino e Palácio de César

4. Templo de César

5. Teatros

6. Panteão

7. Rio Tibre

Sinagoga na cidade de Óstia
Sinagoga na cidade de Óstia

Esta fotografia mostra as ruínas de uma sinagoga em Óstia, a cidade que servia como porto para a cidade de Roma. O edifício, que foi construído na segunda metade do primeiro século EC, passou por renovações e alterações, mas acredita-se que originalmente fosse uma sinagoga. O facto de uma sinagoga ter sido construída ali indica que houve judeus a morar nos arredores de Roma durante um bom tempo. Apesar de os judeus terem sido expulsos da cidade de Roma pelo imperador Cláudio por volta do ano 49 ou 50 EC, é possível que comunidades de judeus tenham permanecido na região. (At 18:1, 2) Depois da morte de Cláudio em 54 EC, muitos judeus voltaram para Roma. Quando Paulo escreveu a sua carta aos irmãos em Roma (por volta do ano 56 EC), a congregação era formada por cristãos judeus e não judeus. Foi por isso que Paulo falou na sua carta sobre assuntos relacionados com esses dois grupos, mostrando o que eles deviam fazer para viverem juntos em união. — Ro 1:15, 16.

1. Roma

2. Óstia