Muitos turistas visitam as famosas cascatas perto da cidade de Pagsanjan, nas Filipinas. Foi lá que o meu pai, Nardo Leron, cresceu, num meio pobre. Depois de ver tanta corrupção no governo, na polícia e no seu trabalho, ele tornou-se uma pessoa amarga e revoltada.

 Os meus pais trabalharam muito para criar os seus oito filhos. Geralmente, ficavam longe de casa por longos períodos, a cuidar das plantações nas montanhas. Muitas vezes, eu e o meu irmão Rodelio tínhamos de cuidar de nós mesmos e passávamos fome. Não tivemos muitas oportunidades para brincar quando éramos crianças. A partir dos sete anos, cada um de nós teve de trabalhar numa plantação, levando pesadas cargas de cocos por caminhos nas montanhas. Se a carga fosse pesada demais para a levantarmos, éramos obrigados a arrastá-la.

 Tínhamos de aguentar as agressões físicas do nosso pai, mas o mais difícil era vê-lo a agredir a nossa mãe. Tentávamos impedi-lo, mas não conseguíamos. Sem que ninguém soubesse, eu e o Rodelio combinámos matar o nosso pai quando fôssemos mais velhos. Como eu queria um pai que nos amasse!

 Por causa da frustração e da raiva que eu sentia pelo meu pai, saí de casa quando tinha 14 anos. Morei nas ruas durante um tempo e comecei a consumir canábis. Depois trabalhei como barqueiro, levando os turistas até às cascatas.

 Poucos anos depois, comecei a estudar na universidade em Manila. Mas, como viajava para Pagsanjan para trabalhar aos fins de semana, eu não tinha muito tempo para estudar. Parecia que eu corria sem chegar a lado nenhum, e a canábis já não diminuía a minha ansiedade. Comecei a experimentar metanfetamina, cocaína e heroína. E as drogas andam de mãos dadas com a vida imoral. Eu estava rodeado de pobreza, injustiça e sofrimento. Odiava o governo que, na minha opinião, era o culpado de tudo. Eu perguntava a Deus: “Porque é que a vida é assim?” Mas não encontrei respostas para as minhas perguntas em nenhuma das religiões em que procurei. Então, usava mais drogas para diminuir o meu desespero.

 Em 1972, estudantes nas Filipinas organizaram manifestações contra o governo. Eu participei numa dessas manifestações, que acabou em violência. Muitas pessoas foram presas e, alguns meses depois, a lei marcial a foi instituída no país.

 Voltei a viver nas ruas, mas agora tinha medo das autoridades, porque tinha participado na rebelião. Para conseguir comprar droga, voltei a roubar e, depois, comecei a oferecer serviços de prostituição a ricos e estrangeiros. Viver ou morrer era-me indiferente.

 Entretanto, a minha mãe e um dos meus irmãos mais novos começaram a estudar a Bíblia com as Testemunhas de Jeová. O meu pai ficou muito zangado e queimou as publicações bíblicas deles. No entanto, eles não desistiram e foram batizados como Testemunhas de Jeová.

 Certo dia, uma Testemunha de Jeová conversou com o meu pai sobre a promessa da Bíblia de um futuro em que haverá verdadeira justiça em toda a Terra. (Salmo 72:12-14) Essa perspetiva chamou tanto a atenção do meu pai que ele quis saber mais. Na Bíblia, ele encontrou não só a promessa de Deus de um governo justo, mas também descobriu que tipo de marido e pai Deus espera que os homens sejam. (Efésios 5:28; 6:4) Pouco tempo depois, ele e todos os meus irmãos tornaram-se Testemunhas de Jeová. Mas, como estava longe de casa, eu não sabia de nada.

 Em 1978, fui viver para a Austrália. Mas, mesmo nesse país tranquilo e rico, eu não tinha paz mental. Continuei viciado em drogas e em álcool. Mais tarde naquele ano, as Testemunhas de Jeová visitaram-me. Gostei do que elas me mostraram na Bíblia sobre uma Terra pacífica, mas eu tinha um certo receio de me envolver com elas.

 Pouco depois disso, voltei às Filipinas por algumas semanas. Os meus irmãos contaram-me que o nosso pai se tinha esforçado muito para se tornar uma pessoa melhor, mas eu tinha tanto ressentimento que fiz de tudo para não ter nenhum contacto com ele.

 A minha irmã mais nova explicou-me, usando a Bíblia, porque é que a vida é tão cheia de sofrimento e injustiça. Fiquei impressionado ao ver que uma adolescente com pouca experiência poderia ter respostas para as minhas perguntas. Antes de me ir embora, o meu pai deu-me o livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra. b Ele disse: “Não corras mais sem rumo. Este livro vai ajudar-te a encontrar o que estás a procurar.” Ele incentivou-me a contactar as Testemunhas de Jeová quando chegasse à Austrália.

 Segui o conselho do meu pai e encontrei um Salão do Reino das Testemunhas de Jeová perto da minha casa, em Brisbane. Aceitei um estudo bíblico. As profecias da Bíblia, como a de Daniel capítulo 7 e Isaías capítulo 9, mostraram-me que o governo de Deus, que é totalmente livre de corrupção, será o nosso governo no futuro. Eu aprendi que vamos viver num Paraíso na Terra. Eu queria agradar a Deus, mas percebi que teria de controlar as minhas emoções, deixar o álcool, as drogas e a minha vida imoral. Separei-me da mulher com quem eu vivia e livrei-me dos meus vícios. À medida que a minha confiança em Jeová aumentava, eu orava para que ele me ajudasse a fazer outras mudanças.

 Aos poucos, comecei a perceber que o que eu estava a aprender tinha mesmo o poder de mudar uma pessoa. A Bíblia diz que, se nos esforçarmos, podemos ter uma “nova personalidade”. (Colossenses 3:9, 10) Quanto mais eu tentava fazer isso, mais percebia que aquilo que eu tinha ouvido falar sobre a mudança do meu pai podia ser verdade. Em vez de ficar com raiva ou de querer discutir com ele, eu queria fazer as pazes. Por fim, perdoei o meu pai e deixei para trás todo o ódio que eu guardava desde a infância.

 Quando eu era jovem, costumava imitar os comportamentos destrutivos de outras pessoas. O aviso que a Bíblia dá foi exatamente o que aconteceu comigo: as más companhias levaram-me para maus caminhos. (1 Coríntios 15:33) Mas eu encontrei amigos verdadeiros entre as Testemunhas de Jeová, e elas têm-me ajudado a ser uma pessoa melhor. Foi também entre as Testemunhas de Jeová que conheci a minha maravilhosa esposa, a Loretta. Juntos, nós gostamos de mostrar às pessoas como a Bíblia pode ajudá-las.

 Foi graças à Bíblia que eu vi o meu pai tornar-se um marido amoroso e um cristão humilde e pacífico. Eu achava que isso nunca seria possível! Depois de me batizar como Testemunha de Jeová, em 1987, eu e o meu pai reencontrámo-nos, e ele abraçou-me pela primeira vez na vida!

 Durante mais de 35 anos, o meu pai e a minha mãe trabalharam juntos, partilhando a esperança da Bíblia com outros. O meu pai tornou-se um homem dedicado e amoroso, e era conhecido por ajudar as pessoas. Durante esse tempo, aprendi a amá-lo e a respeitá-lo. Eu tinha orgulho de ser seu filho! Ele faleceu em 2016, mas eu lembro-me dele com muito carinho. Eu sei que tanto ele como eu fizemos grandes mudanças de personalidade quando começámos a colocar em prática o que a Bíblia diz. Todo aquele ódio que eu sentia desapareceu completamente. E eu sou muito grato por ter encontrado o meu Pai celestial, Jeová Deus, que promete acabar com todos os problemas que as famílias, em todo o mundo, enfrentam.